2011-10-18

Poesia

A palavra

A palavra é uma estátua submersa,
um leopardo que estremece em escuros bosques,uma anémona sobre uma cabeleira.
Por vezes é uma estrela que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite, cega e nua,mas vibrante de desejo como uma magnólia molhada.Rápida é a boca que apenas aflora os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos,os cabelos ardentes e vejo uma água límpida numa concha marinha. É sempre um corpo amante e fugidio que canta num mar musical o sangue das vogais.

António Ramos Rosa, in Acordes(1989)

Sem comentários: